O crânio de Harbin foi descoberto na década de 1930 na cidade com o mesmo nome na província de Heilongjiang, mas terá sido alegadamente escondido num poço durante 85 anos para o proteger do exército japonês
Ilustração do Homem dragão
Uma equipa de cientistas chineses anunciaram esta sexta-feira (25) ter encontrado os restos de uma nova espécie humana que viveu na Ásia há pelo menos 146.000 anos e que seria o parente evolutivo mais próximo do Homo sapiens, a nossa própria espécie.
A nova espécie foi batizada de Homo longi, ou "Homem Dragão" – e, de acordo com os cientistas, essa nova linhagem deve substituir os Neandertais como os nossos parentes mais próximos.
O crânio de Harbin foi descoberto na década de 1930 na cidade com o mesmo nome na província de Heilongjiang, mas terá sido alegadamente escondido num poço durante 85 anos para o proteger do exército japonês.
Foi mais tarde desenterrado e entregue, em 2018, ao professor Ji Qiang, da Universidade Hebei GEO.
"Segundo as nossas análises, o grupo Harbin está mais próximo do Homo sapiens do que os Neandertais, isto é, os Harbin partilhavam um antepassado comum mais recente connosco do que os Neandertais", disse à AFP um dos autores dos estudos agora publicados na revista The Innovation, Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.
"Se estas são vistas como espécies diferentes, então esta é a nossa espécie irmã", acrescentou, referindo-se à que está mais próxima de nós.
O crânio data de há pelo menos 146 mil anos, do Pleistoceno Médio. Pode albergar um cérebro semelhante em tamanho ao dos humanos modernos, mas tem órbitas oculares muito maiores, sobrancelhas grossas, uma boca larga e dentes enormes.
"Apesar de mostrar características típicas dos humanos arcaicos, o crânio de Harbin apresenta um mosaico de combinações de características primitivas e derivadas que o colocam aparte de tudo o que antes foi denominado na espécie Homo", indicou Ji, outro coautor do estudo.
O nome Homo longi é derivado de Long Jiang, que significa literalmente "Rio Dragão".
A equipa acredita que o crânio era de um homem, que teria cerca de 50 anos, que vivia numa planície de inundação florestal.
"Esta população seria de caçadores-recoletores, que viviam da terra", disse Stringer. "A partir das temperaturas de inverno atualmente em Harbin, parece que eles estavam a enfrentar temperaturas ainda mais frias que os Neandertais", acrescentou.
Dada o local onde o crânio foi encontrado, e o facto de parecer ser de um homem de grande porte, a equipa acredita que o H. longi estaria bem adaptado às condições e poderia ter sido capaz de se dispersar pela Ásia.
Os cientistas estudaram primeiro a morfologia externa do crânio, recorrendo a mais de 600 características, e depois efetuaram milhões de simulações por computador para construir árvores genealógicas de parentesco com outros fósseis.
"Isto sugere que o Harbin e alguns dos outros fósseis na China formam uma terceira linhagem de humanos junto com os Neandertais e o Homo sapiens", explicou Stringer.
Se o Homo sapiens tivesse chegado ao Leste da Ásia na altura em que o Homo Longi estava presente, podem ter havido cruzamentos, mas isso não é claro.
Há também muitas questões por responder sobre a sua cultura e nível tecnológico, por causa da falta de material arqueológico. Mas a descoberta ainda pode alterar a compreensão da evolução humana.
"Estabelece uma terceira linhagem no Leste da Ásia com a sua própria história evolucionária e mostra o quão importante é a região para a evolução humana", disse Stringer.
Fonte: Lusa
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José Luciano
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